quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Solar

Parece tão óbvio que toda manhã apareças. E mais óbvio que o atarefado de sempre nem note os teus afagos de luz. Ou agradeça esta mansidão de despertar. O manto surrado de cinzas, os entremeios de cores, com os quais desperta da noite a aurora. Tudo despercebido. Até que então te escondes. E assustado com a breve escuridão,  põe-se  à procura. Só não te gosto a pino, quando são bem vindas as sombras que te vestem. Muitas das vezes prefere-se o amanhecer e o entardecer, esquecidos de que entre o início e o término há o meio, o entremeio, o estremecer, a alegria e a dor e os instantes  frugais.  Não te prolongues escondido, chuva a dentro -  rarefeita nestes sertões mundo à fora - pois senão definha, adormece  adormecem, esmorecem e tudo pode se perder. É tão óbvio que até perde-se o tempo de te ver, embora embebidos de luz, cor e sombras se queira despir ao teu prazer. E a obviedade desvanece enquanto corpo e alma languidamente desfalecem. SGdeAlmeida

Passeio

Os passos ligeiros são necessários para alcançar os objetivos de tua partida. Mas eles não ofusquem os teus sentidos, nem teu intuito, impedindo que vejas as peculiaridades do trajeto. De repente o que precisavas para melhorar o prazer da chegada esperava o teu acolhimento e tua mão estendida ao toque naquele desvio do caminho. Apressado nada percebeste e a memória ficou vazia de retornos e de encantos, só restaria a esperança de seguir... mesmo que não voltes, atenta teu passo. Há gotículas de vida esperando afagos em todo lugar. Há cores celestiais pontilhando o percurso, e serão favoráveis ao teu intento de felicidade. Ela que acontece instante a instante, nunca, somente, na chegada. Vedes as flores...
SGdeAlmeida