sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Poesia: O Abandono ou cadela parida

Lá no fundo do buraco
Cavado por mãos humanas
Distendido por ânsia canina,
Lá está ela

Solitária e materna..
Tão pobrezinha!!
Quietinha ...
Enfraquecida ...
São dez filhotinhos vindos a luz!!





Descoberta ...
Alegria de criança, encantada
Sobressaltada com tantos filhotinhos...
O pequeno rei anjo viu primeiro!

Desprezo, agonia de gente grande que passa
E vê o buraco repleto de filhotinhos.
Arregalados, adultos olhos fitam a cadelinha.
Que será de ti, desprezível vira-lata?




Que será de ti inocente mãe
E teus tantos filhotinhos?
Que fizeram os homens que te desprezaram
Será que vêem agora tua maternidade

Acolhida no buraco.
Presença doída
Dos abandonados...
Encolhida e só
O cão é como os homens.

SGdeAlmeida 04082009 FSA



domingo, 12 de julho de 2009















Em Ituberá-BA
a água escorre por entre as pedras com uma pancada grande.
Pancada Grande é força, volume e energia correndo para o mar

Poesia: Paisagem saudade.

Paisagem saudade.

Pela janela via a paisagem passar
Veloz
O milharal pendoando
Remetia à infância
Lançava uma vastidão de lembranças
Irrequietas e repletas dos cheiros, gostos e imagens
Que só as lembranças despertam
A paisagem... veloz... vai
Deixa uma saudade aflorar
Dolorida, fresca
Ao longe nuvens negras e cinza
Revestem o horizonte da paixão luminosa e contrastante do outono
E treme a paisagem
É vento ou a saudade que balança as folhagens
É impossível saber
A velocidade com que passo
Ou com que vejo
As essências das lembranças invadindo
Os sentidos e embotando as certezas
Tudo balança
E a paisagem segue mudando
O milharal, a roça...
As folhas verdes do feijão contratando com seus brotos de flores roxas
Meu olhar se perde...
Tudo passa rápido.
A velocidade e a cidade ocupando tudo
Meu coração se enche de saudade
Meus olhos embaçados pela chuva que cai
E as lagrimas que aforam de minhas lembranças...
SGdeAlmeida220609.

Poesia: Cai na real

Cai na real, mermão!

Veja bem, meu irmão
Pergunte-se por ai
Se droga é solução.
Muitos vão te responder:
Você tem amigos?
Tem família ?
Tem irmãos?
Por que droga só te traz
Uma imediata ilusão
“Ser grande, respeitado no gueto”
Marginalia...
“Tudo de contra-mão.”
Mas a verdade todos sabem:
Ser um número na prisão;
Um dado de estatística;
Um número para a polícia;
Um caixão da solidão.
Ninguém te acompanha
Talvez gente da ‘bocada”
Por quem ninguém chorará.
Muitos com certeza dirão
"Já vai tarde, 'mermão."
Tua mãe quem sabe
Terá um ombro onde se consolar
Mas o vazio (espaço) deixado
Pelas tuas ausências constantes
Ninguém poderá ocupar.
É assim que você se vê?
É isto que você espera?
O futuro a Deus pertence!!
Mas você pode optar.
Ser um número na estatística!
Ser um cara de valor!
Ser um cidadão de primeira!
Ter alegria de ter
Amigos, Família, irmãos
E de usufruir das conquistas
Que chegam com sacrifício
E dedicação.
Cai na real, meu irmão
Droga não tá com nada.
É uma barca furada!
Só dá barra pesada!
Só dá vergonha a quem esperava mais de você!
SGdeAlmeida – 15062009.

domingo, 5 de julho de 2009

Poesia / Foto: As Garças Brancas

A praia é um vazio sem fim
Não fosse a certeza de que o mar vive


E sobre o mar, e pelo mar e de além mar elas veem,


As garças brancas bailam desengonçadas
Bailarinas pescoços longos a espreitar o mar



Pairam e lançam-se ao sabor do vento


Vão-se com elas meus desejos de voo
resta o mar de cabuçu
preservado em memorias de garças brancas
e no vazio da praia lambida pelo mar




Poesia / Foto: Puxada de Rede - Homens e Mar











O mar e os homens.
Bravio mar, bravos homens.
E Deus por testemunha...
os homens lutam







Lançar a rede, puxar o mar.
Vem água, algas, peixes e sobras dos homens
E vem homens ajudar
O céu é testemunha
O mar há de ser generoso...













Sobra fervor, sobra alegria




bravios homens, bravio mar



a rede cede... os peixes a saltar

O mar resiste




O vazio de cabuçu se enche da luz rebrilhante




o sol a cintilar nas piabas, nas tainhas,



xangó a saltar




e chegam os homens para lutar com o mar.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Poesia: Princípio I

Princípio I

A cada instante eu me transformo...
E me modifico mais e mais
Como as areias do deserto
Tangidas pelo vento que sopra do oriente
Do ocidente, do nascente e do poente
Não sei de que lado é mais forte. Só sei.
E me deixo levar...
Com os movimentos do sol,
Da vida, do tempo...
(021085)

Texto: A solidão das árvores (princípio)

A solidão das arvores

Quando se propuser a escrever, lembre da minha história. Sei que não fui o moço que sua mãe sonhava, mas vivemos momentos que não serão jamais apagados da memória dos que os viveram conosco.
A solidão afoga meus pensamentos e, incessantemente, vai enchendo de sombras os momentos brilhantes de meus dias passados guardados no baú de minhas memórias. A tenebrosa sombra estende-se indômita pelos vastos campos, desnudos, verdes pastos solitários. Lá, ao longe, ruminam os bois. Poucos vestígios de arvores protegem os lugares onde ainda guardo algumas lembranças. E os homens avançam devastando. As raízes, expondo, e outras enterrando fundo para não rememorar enquanto ruminam suas agruras. Por que eu? Onde estão meus semelhantes que me deixaram abandonado, cercado de solidão. As árvores onde estão, as plantas rasteiras. Os arbustos que retinham pequenos entes abaixo de minhas sobras. E barravam com suas intransigências a passagem dos homens. A sombra boa que produziam, frutificavam as ávidas incubando novas sementeiras e escondendo a possibilidade de que a solidão se avizinhasse. Agora sozinho neste espaço aberto nada a dizer, pois não há ninguém a nos ouvir. Minha copa frondosa não serve a nada, mesmo quando se estende ao longe não alcança o toque da minha irmã que grita ao longe. Estamos próximas e distantes.
A solidão das arvores é tão grande quanto a dos homens. Ah! seres irracionais. Vejam o que fizeram de nós os entes que viram a vida surgir e dela fomos encarregadas desde o princípio dos tempos...

sábado, 20 de junho de 2009